25 de março de 2014

Nostalgia


 Todos os dias, voltando da faculdade, cruzo a esquina da rua em que eu morava com meu pai. Vejo aquele muro cinza onde muitas vezes abracei quem tanto amava dizendo até amanhã. Passo por lá e parece que algo revira dentro de mim, como um peixe que nada no meu coração, mandando bolhas até a superfície do meu cérebro eutrofisado de tanta matéria... Nostalgia é o sentimento mais baixo que existe. Também quando tenho aula no bloco J, passo pelo refeitório da universidade e o vidro reflete a minha perplexidade diante da sensação de abandono que lembranças repentinas me causam. Sinto cheiros, vozes, frio, chuva, apelidos. Tudo isso começa a me rodear enquanto subo as rampas até o ultimo andar e me afasto do pátio do refeitório. Quando chego na sala de aula já passou. Esqueço. Tudo bem. Mas a intensidade com que essas coisas me tomam é tanta que me tira daqui. Me leva pra uma dimensão e sinto algo dentro de mim. Algo gigantesco como um carinho dolorido que gradativamente me puxa para as profundezas de mim, e eu me perco... Amor. Não sei de onde, não sei por quem, também não sei por que. Se apanhei tanto e ainda tem um resto de amor aqui dentro, é porque definitivamente, ele nunca acaba. Independente de por quem seja. Só não quero que vire praga. Tudo que é demais estraga. Mas aqui dentro tudo que é bonito, de alguma forma torna se dolorido ao extremo. A respiração não condiz. Os passos não seguem. O escrever não se faz. O amor não volta. Porque o ódio é tão puro, tão singelo e simples... E o amor, sentimento tão nobre e corajoso, tão bonito e poético, não me atrai mais. É complexo demais. Um labirinto seria necessário para comportar novos amores. Porque amar é botar tudo a perder, da forma mais nobre. Mas quando seu interior está em ruínas, no pós guerra, um labirinto torna-se de forma relativa, uma obra muito grande, que não cabe, impossível construir tanto em meio a tantos destroços. Ainda estou recolhendo as cinzas e apagando fogos. Ainda sinto o cheiro de fumaça e Egeo. Ainda sonho com olhos castanhos e acampamentos, ainda entra espinhos na minha mão e eu sorrio, como se a vida me desse um tapa na cara e eu oferecesse o outro lado. Na ironia. No breu. Na solidão.

25 de janeiro de 2014

Adeus...

 Então é isso? Esse frio na espinha que dá ao ler um simples nome deixa no ar as opções de humilhação que você pode escolher para a situação de quando te sobe um frio na barriga, borboletas esquizofrênicas e gelo adentrando o coração, aquele belo efeito montanha russa que eu dizia que você me fazia sentir.
 Realmente, estava em uma montanha russa. Ou estou. De fato, parece que ouve algumas quedas e depois que você se despediu ficou um vácuo muito grande que eu talvez não tenha dignidade tamanha para assumir.
 Nem se quisesse poderia dizer que fiz errado. Não fui o suficiente boa na parte de terminar oque não começamos... Foi tranquilo dizer adeus, mas nos outros dias eu me sentia com pena de mim e o sentimento se expandia até chegar à parte do meu cérebro que me fez ter raiva de mim, e invadi-la me fazendo enganar e mentir que te odiava.
 Fui antiquada, por isso estou não só segurando as pontas, como deixando arder esse arranhado no joelho que acidentalmente tiro a casca toda vez que um amigo em comum cita seu nome, sem que eu esteja preparada.Nunca estarei preparada pra você. Nunca vou me sentir digna para falar com você. Gostaria, do fundo da minha alma, dizer que sinto muito, que você me ajudou e esteve ao meu lado no pior momento da minha vida, transformando-os em lembranças boas que chegam a me doer. Mesmo que você não saiba, e espero que não queira saber, porque lembrar de mim nem que seja por um instante supérfluo e sem querer do seu dia, te faria mais surreal do que já é. E me faria mais sem noção do que a minha pobre alma sabe e sente que sou.
 Então você vai mesmo sair do país. Então eu vou mesmo pra faculdade... Então já é extremamente tarde para pedir desculpas, e para ir contra o meu conceito de paz e te perturbar com mais uma palavra minha direcionada a você. Não, você não merece isso. Não merece nem as desculpas que eu te devo, porque talvez (de forma sincera=com toda certeza) aparecer na sua vida agora faria uma bagunça na minha, e agora é tempo de deixar isso pra traz. Agora é tempo de esquecer que a dor volta quando eu viro a esquina e vejo um carro cinza e redondo. É hora de ignorar os meus instintos porque pedir perdão seria o maior transtorno para ambos.
 Você não morreu, graças à Deus. Mas onde quer que esteja, não importa oque esteja fazendo, ou vendo... que sua alma e sua inconsciência aceitem o meu perdão. Lágrimas já não me ferem, coisas que antes me chateavam já não fazem sentido agora. O nó na garganta passa conforme o relógio anda. A minha memória já começa a se encher de coisas que não tem uma ponte até você. Isso é tão bom... não penso mais em você, raramente sonho. Acho que oque me fere à fundo é não ter deixado minhas desculpas, e não tem energia, coragem e força para o fazer agora. Então só posso desejar que você seja feliz, e orar pra que eu não tenha passado de uma aventura, mesmo...

24 de janeiro de 2014

Capitulo 1

 Quando acordei naquele dia, com meu celular despertando vagamente uma sinfonia que mais parecia canção de ninar, meu primeiro desejo foi dormir por mais uma semana. Mas eu não podia. Era semana de provas na escola, o fim do bimestre se aproximava e  juntamente com ele a minha vida começava a se acertar. Os eixos estavam perto do simétrico, naquele Outubro em que conheci uma pessoa e depois que ela se foi eu não sabia se o odiava por ter ido, ou se me odiava por ter me deixado ir junto. Só me sobrou então o resto de mim mesma, unindo com a dignidade de ser boa aluna em uma escola de macacos indigentes que me dava créditos como humana, com sentimentos sobre humanos e doloridos, minha mãe dizia que quase podia enxergar os hematomas se formando dentro de mim. Era vísivel o quanto eu odiava o mundo por ser tão fraca e as pessoas tão ignorantes com essa fragilidade. Afinal de contas hoje eu nem sei mais se o importante é sentir ou não. Precisa se ser forte para sentir, ou ser forte é não sentir as pancadas todas da vida?
 O fato é que o dia começou como outro qualquer